QUANDO A POLÍCIA É HOSPEDEIRA
Diz, levianamente, que o caráter militar da força estadual atrapalha a atuação em casos de confronto. Ao contrário, Bandeira de Melo, um dos maiores administrativistas do mundo, afirma que esse caráter é um dos instrumentos de controle dessa força, e os policiais é que têm de provar inverdades. Arauto da veleidade, esquece-se que a fricção constante da autoridade no Estado de Direito leva à ruptura da própria democracia, pois, a desordem é terreno fértil para arroubos fascistas ou surgimento de salvadores da pátria. A polícia age exatamente para garantir a defesa da liberdade democrática. Eventuais abusos, identificados ou apontados pela sociedade e pela mídia, são objeto de processos administrativos e judiciais, com fiscalização do MP e da imprensa.
Recentemente, milhares de manifestantes franceses protestaram contra o casamento gay e os radicais, de capuz, confrontaram a polícia, que reagiu com gás lacrimogêneo; em protesto contra a austeridade, na Alemanha, radicais confrontaram a polícia, que usou gás de pimenta e bastões e prendeu cerca de cem pessoas; a polícia da Dinamarca (sim, da Dinamarca) usou gás lacrimogêneo para conter centenas de manifestantes que tentavam invadir o Bella Center, na conferência da ONU sobre mudanças climáticas; encapuzados infiltraram-se em protesto em Roma, arrancaram paralelepípedos das ruas para arremessar contra a polícia e os edifícios, incendiaram veículos e a polícia revidou com jatos d’água e gás lacrimogêneo. É o uso progressivo da força, aprovado no 8ª Congresso da ONU, em Havana, 1990. E as polícias desses países são consideradas democráticas pelo criticador, que segue o Manual EPC (disponível na Internet), enquanto profissionais leem doutrinadores, sobre o conceito funcional de polícia.
Diferente daqueles que têm de decidir rapidamente, quando atuam em zonas conflagradas, ele não tem compromisso com a vida dos cidadãos, dos comandados e dos próprios agressores, mas, acredita ter autoridade celestial para, a posteriori, tecer comentários, formulados sob medida para os ouvidos de quem o suporta, inadequados para quem é seu hospedeiro.