A HISTÓRIA SUFOCADA DO IPSM
Após a Revolução de 1932, na qual foram escritos capítulos marcantes da PMMG, sobretudo no Sul de Minas, sob o comando do lendário e muito respeitado Cel Lery, no Bairro de Santa Efigênia, onde havia uma vila militar, na cidade de Belo Horizonte, deram-se uns fatos que, de alguma forma, tentaram chamar a atenção para as dificuldades vividas. Quem os noticiou não está mais vivo, mas quando estes fatos me foram narrados, sob muita emoção e olhos umedecidos, fiquei sensibilizado com o relato referente aos dias de tensão em que se sucederam os acontecimentos, embora não tenham sido estes divulgados.
As dificuldades das viúvas eram prementes, perceptíveis em nossas retinas. Incomodavam a todos. As esposas dos militares vivos se mobilizavam para ajudar as esposas dos companheiros que falecidos, fossem eles oficiais ou praças. Peça fundamental nesse processo foi o Padre Cir, da Igreja de Santa Efigênia dos Militares que, em 2013, completou 90 anos.
Alguns militares do 1° BPM e 5º BPM (à época, no Bairro Santa Tereza), começaram a cobrar das autoridades governamentais medidas que minimizassem a situação das viúvas e de seus filhos. Claro que as cobranças por parte das autoridades governamentais da época, não foram bem interpretadas. E podemos todos imaginar qual tenha sido a resposta. As ordens governamentais só não se desenharam conforme ordenado pelas autoridades constituídas da época, dada a pronta, eficaz e oportuna intervenção do Cel Lery, que cumpriu o que sempre pregava: “Serei sempre fiel à tropa!”.
Nos anos que se seguiram, mais especificamente os anos 50, do século passado, o salário dos militares da reserva, equiparou-se aos da ativa. Este acontecimento, no entanto, ainda não resolveu, de modo definitivo, a situação das viúvas e dos filhos dos nossos companheiros, cujos valores de pensão não foram alterados.
Mas veio o ano de 1977, quando o então governador do Estado de Minas, Aureliano Chaves, convidado a participar da chapa para as eleições para Presidência da República, com o General João Figueiredo, estipulou, através de um Decreto, que a pensão das viúvas passasse ao ser o correspondente ao soldo do posto ou da graduação dos respectivos maridos.
Neste dia em especial, este narrador, com dez anos de idade, estava acompanhando a avó paterna na então Caixa Beneficente. Lembro-me, nitidamente, que as viúvas, após enfrentarem uma fila na porta, assinavam um livro ao receberem, num envelope, a referida quantia, em dinheiro. Os envelopes eram abertos, logo em seguida, para a conferência da quantia.
Ao conferir o valor da pensão, a minha avó ficou pálida, pois notou que havia uma quantia superior à pensão mensal. Indagou, imediatamente, o CB PM que efetuava o pagamento das viúvas, sobre o valor a mais. O militar respondeu: “A Sra não sabe… o Governador concedeu um novo parâmetro para as pensões!” O valor correspondia a algo em torno de 70% do vencimento correspondente à graduação do marido, ou seja, o valor do soldo.
Lágrimas rolaram dos olhos não só da minha avó, mas do rosto de todas aquelas senhoras que ali estavam. Lágrimas que foram substituídas, logo em seguida, por um sorriso do qual jamais me esqueço.
Saímos. Ao descermos, a pé, em direção ao Bairro de Santa Efigênia, pela Av. Brasi, ela me comprou balas, o que se configurava um luxo. E, ainda naquele trajeto, relatou-me todas as dificuldades pelas quais passava, até então. Disse que aquele “aumento” era muito bem vindo. E que iria minimizar, em muito, as dificuldades.
Só recentemente, no governo do saudoso Itamar Franco, o salário das viúvas foi equiparado ao salário dos militares da ativa. Lamentei que a minha querida avó não estivesse mais viva para ver e desfrutar daquele momento; assim como grande parte daquelas senhoras, na porta da CB, em 1977, quando testemunhei momentos de rara felicidade.
Este pequeno relato tenta mostrar, a todos, um dos muitos capítulos da assistência previdenciária da nossa família. Ouvi diversos relatos dos que viveram com os criadores do IPSM. Eles repetiam, de maneira exaustiva, as dificuldades para se fundar a nossa previdência, com recursos próprios dos nossos antepassados.
Como se vê, o IPSM é mais que um patrimônio para a PMMG. Simboliza os nossos antepassados, que se doaram para que herdássemos a segurança previdenciária aliada a uma velhice digna, caminho natural de todos nós.
Daí a importância de socializar este pequeno capítulo da nossa história, visando revelar a todos esse passado, muitas vezes ignorado.
Tudo de que desfrutamos é herança de muito suor, sangue e lágrimas.
O mínimo que a história nos diz é que honremos os que nos antecederam e que mantenhamos pujante tudo o que eles construíram .