Artigo Cel Queiroz aborda trabalho dos militares: Quem são eles??
Se alguém tem alguma dúvida sobre o que é ser Militar, basta olhar o exemplo que os Militares Estaduais de MG estão demonstrando.
Há um sem sem número de pessoas, com calculadoras nas mãos, fazendo continhas para comparar os Militares com as demais classes trabalhadoras.
Todo trabalho tem seu valor. Toda profissão é dignificante. Todo labor merece respeito.
Cada um na sua, quero dizer que não é possível comparar coisas de naturezas diferentes.
Se você é médico, teve que fazer por onde. Se você é pedreiro, teve que fazer por onde. Se você é professor, também teve que fazer por onde. Por aí vai. E esse “fazer por onde” tem seus prós e contras.
Se a fonte pagadora do professor começar a “pisar” na bola com ele, é possível e legal que se faça uma greve? Se, numa consulta médica, sem a cobertura de um plano de saúde, você não tiver dinheiro pra pagar, o médico é obrigado a lhe atender? O pedreiro continuará sua obra se você ficar atrasando seus pagamentos?
O Militar, via de regra, mesmo sem os seus salários em dia, mesmo sem o seu 13º salário, está lá trabalhando, com afinco, e com amor.
Brumadinho se tornou, hoje, o símbolo disso. A figura mais visível no cenário, a dos Bombeiros Militares, é o exemplo atual do que é ser Militar. Mas além desse belíssimo exemplo, de dedicação e vocação, existem outros tantos trabalhando sob as mesmas condições. São os próprios Bombeiros Militares, cumprindo sua missão constitucional, e são também os Policiais Militares, no mesmo espírito, atuando nas ruas para lhe dar uma coisa que você não vê.
Existem características distintivas, muito próprias dos Militares, em razão do juramento que fizeram, perante a nação, diante da bandeira nacional. Um juramento de dedicar-se inteiramente ao serviço, mesmo com o sacrifício da própria vida.
Não é apenas o sacrifício fatal. Mas também os sacrifícios diários, impostos até mesmo aos seus familiares, com suas ausências, inclusive em dias de festas, com seu cansaço, com suas mudanças de domicílio sem direito de escolha, com suas férias e folgas cassadas, com suas inúmeras horas extras trabalhadas, com os perigos e jornadas não raramente extenuantes. Sem falar na reconvocação, como está acontecendo no Ceará, dos Militares que já cumpriram sua missão, sem direito de dizer não (se recusa o chamado, comete crime militar). Não vou dizer que é uma “desaposentação”, porque Militar não se aposenta. Ele apenas vai para a reserva. Reserva significa “não estar ativo na missão, mas poder ser ativado novamente”.
Militar não pode fazer greve. Militar não recebe adicional noturno ou por periculosidade. Militar não tem FGTS e não recebe hora extra.
Neste momento alguém pode estar entendendo que o que digo seja uma reclamação. Devo advertir que não o é. Eu, assim como todos os outros que conheço das diversas carreiras militares, tive que estudar muito para ingressar na instituição. E tive que estudar durante toda uma vida profissional, para melhorar meus conhecimentos, aprimorar a técnica, para ensinar, tudo isso para oferecer aquele serviço quase invisível, que é a segurança pública. Entrei porque quis. Ninguém me obrigou a entrar, e nem permanecer na instituição.
Chego a me alegrar com as reportagens sobre crimes contra o patrimônio, que sempre utilizam o famoso clichê do jornalismo policial: “falta policiamento”.
Me alegrar? Com a falta de policiamento?
Não.
O que me alegra é perceber que, se tiver policiamento, tudo estará resolvido. Me faz pensar que temos um excelente ensino público, excelente transporte público, excelente infraestrutura urbana, excelente assistência pública à saúde, excelentes políticas de geração de emprego e renda. Me faz pensar que a população não sente falta de outras coisas. Me faz pensar que, se alguém cometeu um crime, o único fator que contribuiu para isso foi a ausência de vigilância policial naquele instante, naquele recorte do tempo.
Não!
Os bombeiros que estão trabalhando, seja em Brumadinho ou em qualquer outro rincão deste país, são Militares. Eles honram suas fardas diante da população que lhes paga os salários.
Os PMs, em qualquer rincão deste país, honram suas fardas perante a população, enfrentando os perigos do dia a dia. Alguns honram com o próprio sangue, inclusive, mas não esmorecem na missão.
Se eles pararem de trabalhar, por motivos talvez até justos que levariam outros trabalhadores a pararem, o país para.
Eu, você, todos nós, precisamos desses profissionais. Precisamos desse tipo de dedicação sacerdotal deles.
Seja na área afetada do estouro de uma barragem, seja num centro urbano carente de políticas públicas que ofereçam boas alternativas àqueles que, por ausência delas, enveredam pelo mundo do crime.
Pense nisso antes de engolir, sem mastigar, o discurso distorcido que alguns órgãos de imprensa e alguns jornalistas insistem em fazer contra os Militares.
As instituições militares não são à prova de falhas. Se fossem, a Justiça Militar seria desnecessária. Homens e mulheres cometem erros. E militares são seres humanos.
Mas isso não dá direito, a quem quer que seja, de querer nivelar todos os integrantes de uma determinada instituição, pelos pontos fora da curva.
Militares são heróis?
Talvez sim! Talvez não!
Depende do ponto de vista, porque heróis são arquétipos.
Mas são pessoas honradas, com sentimento incondicional de cumprimento do dever.
Sei que talvez seja difícil me fazer entender em palavras escritas, principalmente se você nunca vestiu uma farda, ou nunca teve algum familiar próximo que a vestisse. Me perdoe a incapacidade de transmitir fielmente o que sinto.
Mas sou Militar, com muito orgulho!
Robson José de Queiroz é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais, associado à AOPMBM e comandou a Academia de Polícia Militar