Aumento do efetivo e uso de tecnologia são as armas da PM, revela coronel Giovanne Gomes da Silva
Filho de um sargento da Polícia Militar que, antes de integrar a corporação, foi lavador de carros e chegou a morar na rua, o coronel Giovanne Gomes da Silva, comandante-geral da PM, tem uma história pessoal de superação.
Foi vendedor de doces nas ruas da capital e, mais tarde, auxiliar de serralheiro. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Por incentivo da mãe, que, com sacrifício, comprou para ele uma apostila preparatória para o concurso de soldado, foi aprovado em nono lugar e ingressou na PM em 1993.
Desde então, passou pela Companhia de Choque, Batalhão de Missões Especiais, Direção Operacional e Comando de Policiamento Especializado até chegar ao maior posto da carreira até o momento. Com seis meses de gestão, afirma que, tão logo o Estado recupere a capacidade financeira, pretende colocar, no mínimo, 2 mil novos soldados nas ruas de Minas.
Qual é o principal desafio da segurança pública no território mineiro?
Precisamos aumentar a sensação de segurança para que o cidadão mineiro, independente da região onde reside, esteja mais próximo da polícia e veja essa profissão como garantidora do bem-estar dele. Para isso, procuramos doutrina internacional, já que não existe muita coisa escrita sobre o tema no Brasil. Buscamos saber como Nova York faz, por exemplo.
Como isso vai ser feito, na prática?
Estamos setorizando a cidade em 86 áreas. Cada uma tem um oficial à frente. Ele tem os indicadores daquela região. Em um bairro, nós temos uma base comunitária que está em um local de maior visibilidade. Ali teremos todos os serviços: moto patrulha, atendimento comunitário, tático móvel e, se preciso for, Batalhão de Choque, Rotam, helicóptero.
Então o policiamento comunitário vai ser reforçado?
Sem dúvida. Temos um modelo internacional, que é adotado em vários países do mundo. Vamos tornar mais visível o policiamento e, assim, trazer a sensação de segurança para o cidadão de bem e de insegurança para o criminoso.
No hipercentro, temos um policiamento presente, mas problemas como pequenos furtos, sobretudo o de celulares. Como trabalhar a sensação de segurança por lá?
Essa é uma característica de todos os hipercentros. Temos uma população flutuante muito grande e uma degradação social muito presente. Muitos falam sobre grande incidência de arrombamentos, em áreas com muitos moradores de rua dormindo em frente às lojas. Essa solução não depende só da PM, mas de um trabalho social. Até a condução coercitiva para um abrigo, por exemplo, é questionável. Vou conduzir uma pessoa porque ela está dormindo na rua? A resposta é a prevenção e repressão de forma qualificada. Temos estudado muito o hipercentro.
Como isso vai acontecer?
É uma determinação do governador a implantação da Polícia 4.0, ou seja, a mudança de processos com a inserção da tecnologia. Vamos instalar no Centro de BH alguns equipamentos que vão potencializar a atuação da PM. Dos crimes, o que teve menor redução foi o furto consumado e mesmo assim sabemos da subnotificação.
A PM 4.0 já está em fase de implantação?
A metodologia 4.0 não é apenas a aplicação de recursos tecnológicos. Ela passa por mudanças e revisão de processos contínuos, com um setor que só estuda isso. Nessa revisão, definimos o aporte para novo processo que pode, por exemplo, ser o aumento do efetivo. Temos uma diretoria de tecnologia, com vários projetos em andamento que estão sendo testados.
Em Minas, são recorrentes os casos de feminicídio. Como a PM tem trabalhado no combate a esse crime?
Em 2017, criamos a companhia independente de prevenção a violência doméstica. Esses policiais vão, no outro dia de manhã, visitar a vítima. Lá, orientam a mulher, falam das medidas protetivas. Vale ressaltar que, em nenhum dos casos que essa companhia visitou em 2018, houve reincidência. Mais do que isso, a partir de agora vamos inserir no treinamento que é feito com todos os policiais uma disciplina exclusiva sobre feminicídio, de forma que todos os policiais do Estado serão mais bem orientados quanto a esse protocolo.
As bases comunitárias terão horários ampliados ou continuarão sem funcionar durante a madrugada?
A escolha dos horários é científica. Hoje é de 14h à 0h. Precisamos otimizar recursos. Segurança pública não é algo barato. Não tenho necessidade de manter funcionando de madrugada porque naqueles horários tenho menos chamadas no 190. Agora, estamos estudando a possibilidade de ampliar até para cidades do interior. Hoje temos um dificultador que é o efetivo disponível.
Há previsões para aumento desse efetivo no curto prazo?
Temos um curso para iniciar no ano que vem. O governo tem uma determinada capacidade orçamentária e o aumento de efetivo demanda o crescimento do Estado, sair da crise. Assim que tiver condições, nós vamos fazer a recomposição do efetivo.
Haverá transferência de agentes do setor administrativo para as ruas?
Foi publicada agora a autorização para contratar 800 servidores civis que vão substituir os policiais que trabalham na administração. Serão 400 em julho e 400 em agosto. Hoje, a PM tem 5,2% do efetivo na administração e vai cair para 2,7%. É muito pouco frente ao que era antes, algo em torno de 10%.
Para a recomposição do efetivo, de quantos novos policiais o Estado precisa?
Hoje temos quase 40 mil policiais. Com os reconvocados, que virão da reserva de volta à corporação, vamos para 42 mil. Priorizamos a reconvoca-ção para o serviço operacional, e não administrativo. Mas, ainda assim, trabalhamos com o ideal de 46 mil. Na nossa lei, a previsão é de 60 mil.
A tão aguardada integração entre a PM e Polícia Civil vai acontecer na prática? Se sim, quando?
Nós já tivemos algumas experiências que mostraram que isso é possível. O que vemos é que a integração entre as polícias acontece muito pela vontade pessoal, quando o delegado da Civil e o oficial de PM trabalham juntos. Precisamos que isso seja mais institucionalizado e não dependa apenas da intenção das pessoas. A orientação do comandante-geral é de total integração. Estamos integrando os dados. Ainda há um longo caminho, estamos criando protocolos e, em breve, teremos boas notícias.
Temos visto um aumento da procura por armas no país e Minas é o estado que mais solicita autorizações à PF para aquisição de armamento. Como o senhor enxerga isso?
A partir do momento que há um decreto presidencial, não questiono porque nós cumprimos leis. Como profissional de segurança pública, o que posso afirmar é que, se o cidadão fizer a opção de ter a arma em casa, precisa considerar o fator surpresa, que é a maior preocupação até para policiais treinados. Isso com toda certeza os cursos de tiro não ensinam.
Ter a arma apenas em casa também pode ser problemático?
Com certeza o acautelamento dessa arma é algo delicado. O cidadão pode chegar na casa, já arrombada, e encontrar o bandido lá dentro com a arma dele. Não é algo fácil, ainda mais quando se tem crianças naquela residência. Outra preocupação é com a violência doméstica crescente. A arma estando disponível no lar, pode sim potencializar esse problema.
Do Hoje em dia