Artigo Acílio Lara Resende – Há sempre uma receita para combater o desalento
Não têm sido suaves esses meses de pandemia, de informações e contrainformações, de mentiras e verdades sobre o novo vírus que abalou o mundo. Um dos companheiros “daquela mesa” no Clube Campestre revelou que notou mudanças de comportamento nas pessoas com as quais voltou a conviver: “E não é só na fisionomia de cansaço que todos ostentamos. Sentimos o impacto, e envelhecemos”.
Mas isso ainda não levou boa parte da elite brasileira, chamada pelo cronista Joaquim Ferreira dos Santos de “tosqueira”, a tomar medidas preventivas contra a doença. Ela insiste em não usar máscara, promove aglomerações e não estão nem aí para o próximo.
Pior do que a pandemia, porém (outras virão e serão tratadas adequadamente), é não sabermos para onde o mundo caminha no momento em que a tecnologia ameaça acabar não só com a liberdade e a democracia, em razão, sobretudo, de uma diabólica epidemia – a das notícias e perfis falsos. A ciência avança velozmente na tecnologia da leitura da mente e, obviamente, esbarra em graves preocupações éticas.
“Cérebros estão conversando com computadores e computadores estão conversando com cérebros. Nossos pensamentos estão seguros”? É o que pergunta o neurocientista computacional da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Jack Gallant, que vai mais longe quando formula esta outra pergunta: “O que acontecerá quando for realmente possível ler os pensamentos de uma pessoa que sequer está consciente deles, quando for possível ver as lembranças das pessoas”?
Ou o melhor é não pensar em nada disso, leitor? “Isso é coisa de cientista maluco, que fica coisando por aí e nos deixa mais malucos”, como diria o saudoso jornalista e escritor José Bento Teixeira de Salles, que usava o verbo coisar para explicitar o que desejava dizer.
Minha sugestão, para os dias que ainda virão, é ouvir música. Ela funciona como bálsamo em nossos corações atormentados.
Está na internet uma bóia de salvação em seu mar de imbecilidades (que podem matar a liberdade, a democracia e o ser humano numa só tacada): a bela música Smile, do gênio Charlie Chaplin, composta para o filme “Tempos Modernos”. A música é de 1936; a letra – de John Turner e Geoffrey Parsons – é de 1954. Cantores consagrados (como Djavan) a gravaram. Sua letra é um poema. Ei-la: “Sorri / Quando a dor te torturar/ E a saudade atormentar / Os teus dias tristonhos, vazios / Sorri / Quando tudo terminar / Quando nada mais restar / Do teu sonho encantador / Sorri / Quando o sol perder a luz / E sentires uma cruz / Nos teus ombros cansados, doridos / Sorri / Vai mentindo à tua dor / E ao notar que tu sorris / Todo mundo irá supor / Que és feliz”.
Que sirva de mais um alento aos órfãos da Covid-19.
(Acílio Lara Resende, jornalista)