Artigo Cel Amauri – A porta-voz dos PMs

Há algum tempo, o grande temor mundial era a eclosão de uma guerra nuclear, em razão de conflitos entre superpotências, verdadeiros macro-organismos. Rogava-se por prudência e serenidade dos chefes de Estado! E elas se abateram sobre eles e a paz mundial, sob esse aspecto, se instalou.

No momento, a humanidade vive a angústia de sofrer sorrateiro ataque de um micro-organismo maléfico: o Sars-cov-2, o novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19. O clamor, aliado à expectativa, era de que cientistas produzissem uma vacina salvadora. E, felizmente, após aprovação em testes, estão próximas de serem fabricadas em série.

Em paralelo a essas inquietações pontuais, há um fato social que, além de ter um lamentável caráter de permanência, aumenta a angústia social na medida em que cresce a espiral de sua ocorrência: o ser humano destruindo outro ser humano. E fortalecem-se instituições para mitigar esse descalabro.

É fato que, deplorável e implacavelmente, há seres humanos maldosos, perversos, ignóbeis. E, quando se sentem tolhidos, em suas reprováveis ações, buscam identificar seus oponentes e a forma de atacá-los para enfraquecê-los, ridicularizá-los e, até, destruí-los. E, em maioria, têm as instituições como alvo.

Dentre eles, há um tipo perigosíssimo, lobo em pele de cordeiro, que, para destilar, extravasar suas emoções negativas – vaidade, egoísmo, soberba, ódio – ou para atender interesses escusos – ganância, subserviência, garantia de emprego – age despudoradamente, travestido de bonzinho, de profissional edificante, de administrador público exemplar quando, na verdade, não o é. Sua capacidade de destruir indivíduos e, até mesmo, instituições, é imensurável, porque é proporcional às suas ambições.

Veja-se fato recente, em que a chefe do setor de comunicação social da PMRJ teria sido exonerada pelo governador, em razão de ter havido entendimento de que a oficial teria extrapolado em manifestação de indignação contra notícia falsa, tendenciosa, aética publicada em órgão da imprensa local.

Lamentável a conduta açodada de quem “está” administrador público.

Amanhã vai embora, deixando o triste e inesquecível legado de ter ajudado a desconstruir uma instituição secular de proteção e socorro, com a marca da subserviência, porque se rendeu ao denuncismo, essa malfadada estratégia de fazer denúncias falsas para prejudicar a reputação de quem é denunciado.

Não se examinaram as circunstâncias em que o fato ocorreu, as clássicas atenuantes e agravantes. Focou-se apenas na forma de manifestação, sem se considerar o conteúdo, com o qual ela se indignou.

Excessos praticados pela oficial? Deveriam passar por uma investigação interna, como é de praxe, sem a indevida intromissão e a abusiva cobrança político-partidária, vírus que atacam pessoas dignas, instituições seculares e, até, o corpo social.

Desautorizou-se, não apenas uma mulher corajosa, mas uma Instituição secular. Desautorizou-se o PM que se despede da mulher e filhos, para travar embate com marginais, em defesa da sociedade. Desautorizou-se uma cadeia de comando, qualificada para apurar os fundamentos da atitude da oficial, no cargo que ocupa e na função de porta-voz oficial da PM. E, também, qualificada para apurar se, numa explosão, ela teria manifestado desassossego, sim, avocando a condição de porta-voz dos integrantes da PM.

É que eles não estão suportando enterrar um companheiro toda manhã e, à tarde e à noite, serem vítimas de aleivosias, de manifestações de descrédito, de deboche.

Em vez da isenção, enquanto se apuravam os fatos, preservando a Corporação, que protege pessoas, familiares e toda a sociedade fluminense, optou-se, de plano, por ficar ao lado de tresloucados, para os quais, quanto pior, melhor!

Desculpem-me os leitores, mas alguém cuspiu para cima!

Reitera-se, antes da punição, seria fundamental que se mandasse apurar o “por que” da explosão da oficial, o “por que” de explosões até mais violentas, contabilizadas no preocupante índice de suicídios de PMs!

Parece que faltou humildade em se buscar assessoramento, com o qual teria sido exposto que, conforme a Neurociência, por trás de “explosões” de raiva, está a vontade de proteger o que é importante para quem explode.

E mais, que, integrando as várias instituições, sejam públicas ou privadas, não há seres humanos infalíveis e, ainda que trabalhem para erro zero, sempre ocorrerá, lamentavelmente, um acidente, um incidente que deve ser estudado, analisado, corrigido sem que haja preconcepções.

Não se considerou que há órgãos públicos onde, inclusive, seus integrantes prestam o juramento de dar a própria vida em defesa do próximo. Exatamente, face esse juramento, essas pessoas são vistas – em outros países – como altruístas, abnegadas, excepcionais, extremamente corajosas. Em razão de procedimentos invejáveis, muitas são merecedoras de aplausos e reconhecimentos públicos. Porém, por aqui, contrariando a lógica animal de sobrevivência, os cães atacam seus tratadores. Ou seja, “A ciência, a lógica, a história e a natureza indicam que nenhum agressor orgânico deseja eliminar o hospedeiro”. Exceto o ser humano da pior qualidade, o embusteiro.

Superestimou-se precipitadamente a forma em que se deu o fato e, de imediato, condenou-se a fêmea, a valente oficial. Contudo, não se tem notícia da mesma coragem contra o macho, o ignóbil jornalista (que jogou para a plateia e deve estar por aí, rindo de nós) e o aviltante conteúdo produzido, que afeta, perigosamente, a segurança subjetiva. Embora isso seja gravíssimo, foi totalmente desconsiderado!

Ah, desculpem-me, os algozes não devem saber o quanto isso influencia no nível de insegurança, como também não devem saber que os verdadeiros jornalistas propugnam que “A sociedade é maior que o mercado. O leitor não é consumidor, mas cidadão. Jornalismo é serviço público, não espetáculo”.

A oficial teria sido punida, por ser verdadeira, e o jornalista, que se escudou, traiçoeiramente, em uma, reconheça-se, necessária liberdade de imprensa, que não respeitou a ética jornalística, defendida, dentre outros notáveis, pelo memorável Jorge Calmon, recebeu encômios.

Enfim, é um triste cenário: enquanto alguns se locupletam com a mentira, a subserviência, a falta de independência, a notícia pirotécnica em lugar de informação de interesse público, trocando a autenticidade pela hipocrisia, a sociedade sofre com essa avassaladora inversão de valores! Até quando?…

Ao final, é oportuno assinalar, no Brasil há um invejável contingente de policiais femininas, da ativa e da reserva, autênticas, corajosas, competentes, independentes, solidárias, éticas, firmes, desprendidas, destemidas, austeras, enfim, extraordinárias profissionais de Polícia. E, por seus significativos atributos e requisitos, que acentuam sua autoridade, elas merecem admiração e, mais do que isso, respeito.

 

Por  Amauri Meireles, Coronel Veterano da PMMG, que foi Comandante da Região Metropolitana de BH

 

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