Artigo Cel Amauri – Reflexão, revisão, correção

Amauri Meireles (*)

Nos assemelhamos aos rios que, nas quedas, encontram forças para alcançar o mar!

 

No alvorecer de 2021, gostaria de aqui escrever sobre acontecimentos alegres, positivos, que tenham contribuído para aumentar níveis de felicidade. Com certeza, ainda que sazonais e aos trancos e barrancos, nós os tivemos e eles nos revigoraram!

Entretanto, por mais otimista que desejasse ser, impossível não relembrar situações que, lamentavelmente, nos impediram de sermos mais felizes. Começando por essa pandemia de Covid-19, provocada pelo coronavírus Sars-cov-2, identificada na virada de 2019/2020, que nos pegou de surpresa e, até mesmo, a comunidade científica.

Ao que consta, pelo menos por enquanto, uma solução seria uma vacina imunizante específica, para conter o surto e amenizar sustos. Porém, quando o otimismo começa a nos envolver, surgem contrapontos de que não houve testes, suficientes e adequados, que há perigosos efeitos colaterais e, em jogo, mais interesse econômico do que social, etc.

E os girondinos e jacobinos contemporâneos se digladiam, se acusam mutuamente de manipulação ideológica desse e de outros quesitos relativos à pandemia.

E nós? Até quando seremos mariscos nesse embate entre o mar e o rochedo?

Quanto a essa pandemia, já se sabe, relativamente bem, o que ela é, o que provoca, como, quando, onde. Sabemos, inclusive, que medidas preventivas, assépticas e antissépticas, devem ser adotadas. E a terapêutica está bem adiantada. Poderia estar mais, se não houvesse o uso político de uma doença para alcançar objetivos partidários. Esse egoísmo, essa ambição desmedida, generalizada impedem a implantação de um projeto nacional, cuja finalidade seria preservar a saúde do Brasil, onde, por certo, estaria inserida a saúde do povo brasileiro.

Ah, claro, isso exige desprendimento! E, ao que parece, é um dos últimos atributos de maioria dos atuais políticos brasileiros.

Falando em saúde do Estado brasileiro, uma segunda situação extremamente repulsiva.

Temos assistido a embates ideológico-partidários deploráveis, cujo objetivo é atingir o adversário político. Porém, o alcance, o resultado obtido foi residual, visto que, no máximo, um ou outro alvo saiu chamuscado. Certamente, a grande depreciação foi sofrida pelo Brasil, enquanto Estado, em razão de solapamento de sua estrutura. Não é de fácil compreensão o fato de um ou outro político, agente público, formador de opinião não perceber que, o montante de seu presunçoso ganho, são migalhas em relação ao prejuízo que comportamentos hipócritas podem causar ao nosso país.

E isso é inadmissível! Que os políticos divirjam, briguem entre si, conquanto essas discordâncias não sejam por objetivos individuais, partidários que coloquem em risco nossos filhos, nossos netos, a família brasileira em geral.

A concepção policiológica de Estado é de que nós, indivíduos, abrimos mão de certa parcela de direitos em favor de uma entidade abstrata, na expectativa de que, da sinergia decorrente, o provimento da proteção e a promoção do desenvolvimento, individuais e coletivos, terão efetividade.

Visando a isso, elegemos valores a serem respeitados, regras a serem obedecidas e atitudes a serem praticadas, cuja observância se inicia no indivíduo e termina na sociedade, acompanhados pelo Estado. Que, para realizar esse acompanhamento, ainda sob a óptica policiológica, detém autoridade (capacidade de intervir em vontades), bipartida em poder (capacidade de alterar vontades) e força (capacidade de impor a vontade do Estado).

Assim, depositamos nossa confiança nos integrantes dos três Poderes, com a convicção de que têm capacidade para trabalhar pelo bem comum, com a crença de que farão isso da melhor maneira possível, que usarão sua autoridade para que possamos viver, de forma serena e confiante, num clima de convivência harmoniosa e pacífica.

Pelo exame de recentes e sucessivos acontecimentos, tem-se a convicção de que, salvo as exceções que confirmam a regra, maioria das autoridades dos três Poderes não trabalha para vivermos num estágio de tranquilidade social, mas, sim, visando à implantação de sua lógica ideológica e/ou à locupletação financeira de certos grupos.

Examinando-se a atual conjuntura, entende-se oportuno, aqui, fazer uma correlação entre a angústia, provocada pelo estágio atual dessa pandemia, exacerbada pelas incertezas sobre o que esse coronavírus nos reserva e a indignação, de todos nós, em relação ao desvio de propósitos dos Poderes.

Quanto à pandemia da Covid-19, instalada recentemente, ao que parece, começa a aparecer, ainda que timidamente, uma luz no fim do túnel. As medidas preventivas observadas pela população, a avançada identificação de rotina de tratamento, novos medicamentos, pesquisas de vacinas, enfim, há um conjunto de providências em andamento que, pouco a pouco, vão fortalecendo nossa crença em nossos pesquisadores, em nossos abnegados profissionais de saúde e, nos corações de todos e de cada um de nós, um profundo e sincero sentimento de gratidão.

Quanto à pandemia política, instalada sorrateira e insidiosamente, há algumas décadas, espalha-se sordidamente, inescrupulosamente. Grande número de agentes públicos, eleitos ou não, concursados, indicados, apadrinhados, com ênfase entre os que desempenham funções fundamentais, somente enxerga seu cargo como uma sinecura, um facilitador de locupletação própria e de seus prosélitos.

Lamentavelmente, nem todos têm requisitos e atributos indispensáveis a seu desempenho: honestidade, ética, integridade, dignidade, honradez, vergonha, altruísmo, etc. Para piorar, há quem extrapola suas funções, interferindo em questões de outro Poder, que não o seu. Até quando e onde vamos ser massa de manobra, com esse cinismo de atropelar o Art.2º da CF/88?

Ah, por ora, não há vacina para nos proteger desse vírus político que, de alguma forma, somos responsáveis por sua criação e sua mutação.

Falta ao Brasil sincronia, sinergia, sintonia entre os três Poderes, com reflexos em todas as camadas sociais. Ressente-se a falta do exemplo, na atual conjuntura de anticultura nacional, em razão do difuso desrespeito ao conjunto de regras, valores e atitudes que caracterizam, que, até então, marcavam a identidade ao povo brasileiro. O desrespeito começa na cabeça do Estado e se reflete nas pegadas das camadas sociais, agente ativo e passivo desse equivocado e detestável paradigma.

Resta-nos a possibilidade de manifestar nossa indignação, nossa insatisfação. De manifestar que queremos um esforço solidário visando à harmonia. De bradar que os interesses da nação brasileira, muito mais importantes que mesquinhos, vis interesses ideológicos e/ou partidários, deve prevalecer sobre quaisquer outros.

De gritar, a plenos pulmões, que não queremos ser execrados pela opinião pública internacional, em razão da prática nojenta da anticultura nacional.

Enfim, chega de poucos, desavergonhadamente, carrearem muito para si próprios. Chega de muitos, submissamente, assistirem a esses descalabros, a essa deplorável inversão de valores, que envergonha a Nação.

Alvorecer de 2021: hora de reflexões, hora de revisões, hora de correções! …

(*) Coronel Veterano da PMMG

Foi Comandante da Região Metropolitana de BH

 

Triênio 2019-2021

Coronel PM Ailton Cirilo

Coronel PM Rosângela Freitas

 

AOPMBM presente, cuidando de sua gente.

 

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