Artigo Cel Klinger – Polícia, visão repudiada

Nossa missão é servir (…) Em contato permanente com o povo, paralelamente às atribuições de vigilância e prevenção, poderá o policial atender aos apelos de seu coração generoso: animando os enfermos, socorrendo os feridos, consolando os aflitos, orientando os inexperientes, aconselhando os desajustados, defendendo os fracos contra os maus (…) proporcionando ao seu redor um ambiente de paz, concórdia e alegria…” (POLICIAMENTO, Ed. 1962 – Cel Antônio Norberto dos Santos).

Cursei e conheci Escolas de Polícia. Nelas, ensinava-se dentro do enfoque dos mestres como o Cel Norberto. Tudo bem claro, como difundia em suas obras, outro experiente e erudito escritor policial:  Cel José Geraldo Leite Barbosa, ex-Delegado Especial de Polícia – décadas de 40 a 60 – em Mantena, Caratinga, Cel Fabriciano, Governador Valadares, Conselheiro Pena…. Dizia ele: – “Polícia não tem partido político; seu partido é a Lei; polícia é prestadora de serviço de segurança ao povo…”.

Na formação de todos os profissionais liberais – médicos, odontólogos, economistas, engenheiros, advogados, psicólogos etc – os professores são aqueles que dominam o ramo estudado. Os mestres de cada campo profissional ditam cátedra, difundem artigos e obras, concedem entrevistas, debatem e esclarecem…

Últimas décadas: motivações políticas populistas ou demagógicas, ou ideológicas, levaram ao abandono da Segurança Pública em alguns Estados. Esta degradou-se no conjunto das ineficientes e ineficazes políticas públicas. À esteira, começaram a surgir os “pseudointelectuais de Segurança Pública”, intitulando-se mestres.

Nesse contexto, a criminalidade expandindo-se no bojo de fatores variados (abandono da educação de base, precárias condições de vida classes pobres, corrupção das elites políticas e empresariais…), impunha-se erigir um “Judas” – a POLÍCIA.

As considerações acima vêm a propósito de uma entrevista, lida há meses, e guardada nos meus escaninhos: O Globo, 14/06/2020, ocupando 5/6 da p. 32. Jovem repórter entrevista a Cientista Política peruana LÚCIA DAMMERT. Na introdução o chamamento: “Professora e especialista em segurança pública diz que instituição policial virou ferramenta dos poderosos, e não comunitária, como deveria ser.”

Relendo a entrevista, resolvi comentá-la. Entendi, à época, que a matéria constituía um alinhavado de perguntas capciosas e respostas despropositais. Hoje, vejo-a como desinformação de cunho ideológico. Merece, à luz da verdade, contestação!

A entrevista com a pseudo “especialista em segurança pública” – certamente, nunca cursou uma Escola de Polícia nem praticou a atividade – foi extensa. Para analisá-la em todos os pontos, seria necessário desenvolver um ensaio, o que não é o caso destas

breves reflexões. A abordagem, embora sumária, é suficiente para evidenciar a pobreza de conhecimento sobre o tema e o substancioso viés ideológico.

1ª perguntaA polícia foi criada para proteger os cidadãos, mas, na prática, vemos que alguns grupos sentem mais medo do que segurança. Por que isso acontece? Resp. Longa. Diz que a polícia ameaça com equipamentos de guerra; é distante; foca em jovens pobres ou negros. Conclui que a instituição não tem legitimidade. 2ª Perg. Existe um sentimento antipolícia global? Parte da resposta sem nexo: “… O problema é que a polícia tem sido usada como ferramenta dos poderosos para resolver questões políticas no mundo todo, como o controle de protestos e do crime organizado. ”

As perguntas 3ª e 4ª seguem o mesmo diapasão de minimizar a polícia no seu verdadeiro papel, e também as respostas, inclusive com uma generalização absurda, fechando a 4ª resposta: “…. Eles têm equipamentos, helicópteros, aviões e tecnologia não para entrar em contato com a comunidade, mas para lutar contra ela em muitos casos. ”

A 5ª pergunta, no método de indução, já estabelece que na América Latina e EUA, “a polícia é mais repressora com os mais pobres e com minorias. Por quê? ”  Evidentemente, a resposta, bem comentada, alinha-se no final: “… A polícia então se torna uma ferramenta instrumental para a repressão dos mais pobres e de minorias…

São mais 6 perguntas indutoras, e respostas alinhadas. A polícia é a ré, a culpada, instrumento dos poderosos contra os desafortunados. Abordagens absurdas: “…. Os oficiais de polícia pensam que a violência contra as mulheres não é realmente um crime, ou que a situação é considerada mais uma característica cultural do que um problema social…” “…. Há muitas evidências de que o uso político da polícia não apenas aumenta a violência, mas também apodrece os valores democráticos…”.

Em suma: de um lado, jornalista sem conhecimento do tema; por ingenuidade, ou má-fé, ou mesmo esperteza, formula perguntas que induzem rumo à resposta desejável. De outro, Cientista Política, que se arvora especialista em segurança pública, e foca a Polícia instituição, que existe desde os primórdios do mundo, pelo conhecido e destrutivo viés ideológico. Este, sim, quando assume o poder, transforma a Polícia em seu instrumental: vide a URSS, daqueles anos terríveis, e a Venezuela, nestes tempos (a invejável Guarda Nacional tornou-se uma Polícia Bolivariana, que não hesita em jogar Tanques de Guerra e atirar contra o povo em manifestações).

Para aliviar minha repulsa a tanta “impropriedade”, deparo-me com uma crônica, no mesmo O Globo, 29/11/2014, em que conhecida jornalista carioca, estupefata, compara a Polícia de seu Estado à “Geni” da canção de Chico Buarque (“… joga bosta na Geni…”), e aponta 3 pontos chaves: 1) O policial-militar é a nova Geni, apanha de todos os lados e perdeu o respeito da população; 2) O assassinato de um PM já não comove ninguém, não entra na agenda das ONGs de direitos humanos; 3) Ou o Estado dá uma resposta contundente aos ataques a agentes da segurança ou viramos todos Genis.

Mais recente, um exemplo, dentre muitos, que destaca a permanente ação benfazeja da Polícia – O Globo 20/12/20, p. 31 dedicada à Ten Cel PMERJ Claudia Moraes: “… ganha ‘Oscar do Serviço Público’ com criação da Patrulha Maria da Penha, que assiste mais de 10 mil mulheres”. Eis a essência do trabalho das Polícias!

A Polícia de Minas (militar ou civil) poderia convidar a entrevistadora brasileira e a cientista peruana para um estágio em suas Escolas de Polícia, e, quem sabe, nos ambientes de trabalho internalizariam a natureza nobre da profissão policial.

 

Klinger Sobreira de Almeida – Cel PM Ref – Escritor

Efetivo-Fundador da Academia de Letras João Guimarães Rosa/PMMG

Série O COTIDIANO – 15Jan2021

 

 

Triênio 2019-2021

Coronel PM Ailton Cirilo

Coronel PM Rosângela Freitas

 

AOPMBM presente, cuidando de sua gente.

Deixe um comentário

Relacionados