14 de agosto – Dia do Cardiologista

A Sociedade Brasileira de Cardiologia elegeu, em 2007, o dia 14 de agosto, amanhã, para homenagear o profissional que cuida do órgão responsável por uma das principais causas de mortalidade no mundo. Além dos tratamentos específicos das diversas cardiopatias, a prevenção e o controle dos fatores de risco para doenças cardiovasculares são os grandes desafios desse profissional no seu dia a dia, para reduzir a mortalidade cardiovascular e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

 

Conheça os cinco hábitos para se manter o coração saudável:

  1. Alimentação equilibrada;
  2. Exercícios físicos regularmente;
  3. Durma bem, se possível 8 horas por noite;
  4. Evite estresse e hábitos não saudáveis como tabagismo e abuso de álcool;
  5. Consulte seu médico regularmente.

 

Estamos vivendo um momento único da história, enfrentando uma pandemia que nos impede de praticar livremente atividades físicas, aumentando o sedentarismo, o peso, causando estresse e até impedindo avaliações de saúde periódicas presenciais. É sabido que a COVID-19 pode atingir o coração e todo o aparelho cardiovascular, sobretudo naqueles já portadores de cardiopatias, hipertensão ou outros fatores de risco. Mesmo pacientes jovens, sem aparentes fatores de riscos, podem ter algum acometimento, sendo muito importante uma avaliação cardiológica após a recuperação da infecção pelo Sars -CoV-2. O frio também aumenta as manifestações de doenças cardiovasculares como o Acidente Vascular Isquêmico (AVCi) e as chances de infarto do miocárdio.

 

O frio e o aumento de eventos cardiovasculares

Segundo dados do Instituto Nacional de Cardiologia, o número de infartos do miocárdio cresce, em média, 30% durante o inverno. Da mesma forma, os índices de AVC (Acidente Vascular Cerebral) sobem durante o período mais frio, sendo 20% maior do que em outras épocas do ano. Os estudos foram feitos em países diferentes e compararam as incidências das doenças no inverno com as demais estações do ano. Estima-se que a cada 10o C de queda na temperatura, haja um aumento de até 7% no número de infartos. A situação agrava-se em temperaturas abaixo de 14oC.

A explicação para maior ocorrência vem de um mecanismo adaptivo ao frio do organismo. O frio intenso, entendido como uma situação nociva ao indivíduo, associado à necessidade de acionamento do mecanismo de regulação interna da temperatura em torno de 36oC, faz com que uma reação de alarme interno seja acionada. Como consequência, há liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) para aumentar o metabolismo e produzir calor, com aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e da viscosidade sanguínea, o que favorece a formação de coágulos e instabiliza as placas de aterosclerose nos vasos, levando a ocorrência de infartos cerebrais e do miocárdio.

Portanto, deve-se redobrar os cuidados no frio com os idosos, hipertensos, diabéticos, obesos, fumantes e sedentários. Mesmo aqueles que não fazem parte desses grupos de risco devem evitar a exposição prolongada ao frio intenso e situações de quedas bruscas de temperatura, sem a devida proteção.

É importante manter uma atividade física regular, mesmo no frio. Utilize agasalhos adequados ao esporte. Aqueça principalmente o tronco, utilizando peças adequadas para preservação do calor do corpo, e mantenha uma boa hidratação.

No frio é comum exagerarmos nas comidas com alto valor calórico. Mantenha uma dieta equilibrada, evite gordura saturada, açúcar e excesso de sal. Mantenha os níveis de colesterol controlados, assim como a glicemia e a pressão arterial.

Não é recomendável exagerar nas atividades físicas em baixas temperaturas, pois o corpo precisará de mais oxigênio nos músculos esqueléticos, o que pode sobrecarregar o seu coração. Procure fazer um aquecimento mais lento e prolongado e evite a prática de atividades físicas ao ar livre, se a temperatura estiver abaixo de 14oC.

 

O coração e a COVID-19

Dados recentes de estudos sobre a COVID-19 descrevem que o vírus pode afetar o sistema cardiovascular com manifestações diversas como a injúria miocárdica (lesão no coração que pode ser por infarto agudo do miocárdio), insuficiência cardíaca, Síndrome de Takotsubo (síndrome do coração partido – uma grave condição causada por grandes descargas de adrenalina endógena), arritmias, miocardites (inflamação grave do músculo cardíaco) e choque cardiogênico (condição grave de falência cardíaca). As complicações cardiovasculares evidenciadas nos pacientes com COVID-19 resultam de vários mecanismos, desde a lesão direta pelo vírus (comuns às viroses de maneira geral) até complicações secundárias à intensa resposta inflamatória e trombótica (que causa a formação de coágulos nos órgãos) desencadeada pela infecção. Esses danos ocorrem principalmente nos pacientes com fatores de risco cardiovascular (idade avançada, hipertensão e diabetes) ou a presença de doença cardiovascular prévia (passado de acidente vascular cerebral isquêmico, doença coronariana, e cardiomiopatias – doenças do músculo cardíaco). Alguns estudos mostraram que cerca de 20% dos pacientes internados por COVID-19 podem evoluir com algum acometimento cardiovascular. Outros estudos demonstraram que pelo menos 80% dos pacientes com formas graves da COVID-19 teriam alguma comorbidade, além das citadas; obesidade (IMC>30), câncer e outras situações de baixa imunidade.

Felizmente, atualmente as equipes de saúde que tratam a COVID-19, desde as fases iniciais até a fase hospitalar, são conhecedoras desse potencial acometimento e estão atentas para a rápida detecção de complicações cardiovasculares e seu manejo adequado.

Para mitigar a potencial gravidade da situação cardiovascular, seguem algumas recomendações:

  1. Intensificar os cuidados e as medidas de prevenção contra o novo coronavírus na população de risco;
  2. Os pacientes cardiopatas devem manter o uso adequado das medicações e das recomendações gerais prescritas pelo seu cardiologista, garantindo a adequada aderência ao tratamento, mesmo que precisem utilizar da telemedicina para seu seguimento: autorizado pelo CFM, em 2019;
  3. A devida atualização das vacinas, principalmente contra influenza e pneumocócica, pois há um risco aumentado de infecções respiratórias nos portadores de doenças cardiovasculares;
  4. Vacinação contra a COVID-19;
  5. Recomenda-se redução do número de profissionais de saúde que participam de visitas domiciliares, preferindo reuniões on line;
  6. Submeter os pacientes a exames e procedimentos eletivos, quando estritamente necessário.

 

Eu tive COVID-19, quando posso voltar às atividades físicas?

Apesar de não termos dados a longo praz ainda, temos evidências de acometimento cardiovascular em pacientes de risco e em jovens, sem aparente risco aumentado. Com o conhecimento adquirido com as miocardites virais em geral, é sabido que podem existir sequelas que afetam desde o desempenho físico desses indivíduos, até a maior ocorrência de morte súbita durante o exercício, pois as cicatrizes deixadas podem ser o gatilho para arritmias cardíacas graves, eventualmente fatais

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), preocupada com esses riscos de acometimento cardíaco pela COVID-19 e suas possíveis sequelas, publicou uma Diretriz de Posicionamento sobre o tema, exatamente para orientar sobre a necessidade de avaliação cardiológica após a doença, antes do retorno a prática esportiva, propondo estratégias  para a prevenção de morte súbita, através de uma avaliação cardiológica direcionada, afinal praticar atividade física é uma medida protetiva de doenças, mas todo o cuidado deve ser tomado , antes de retornar.

As recomendações levam em conta a gravidade do quadro clínico de COVID-19 apresentado pelo paciente: se foi leve, moderado ou grave e o perfil do praticante de atividade física: se é esportista recreativo, competitivo ou atleta profissional. Para cada tipo haverá uma avaliação clínica e solicitação de exames específica compatíveis com a gravidade do acometimento cardiovascular.

Naqueles pacientes que apresentaram quadro de COVID leve (assintomáticos ou sintomas autolimitados em até 14 dias, sem sintomas respiratórios persistentes, pneumonia ou necessidade de oxigênio), passarão por avaliação clínica, exame físico, eletrocardiograma e dosagem de troponina (substância dosada no sangue e que se eleva quando há alguma lesão miocárdica). Se a avaliação for normal, pelo menos 14 dias de resolução dos sintomas, esses pacientes estão liberados para reiniciar atividades físicas leves, com progressão gradual de intensidade e treinamento. Caso seja detectada alguma alteração, deve-se progredir na investigação cardiológica, como nos casos moderados e graves, em protocolo já bem definido pela SBC e que o cardiologista conhece bem, onde outros exames como ecocardiograma, teste ergométrico e ressonância magnética do coração podem ser necessários. Eventualmente, pacientes com formas moderadas a graves de acometimento necessitarão serem afastados das atividades e submetidos a algum programa de reabilitação cardíaca.

Logo, se você prática alguma atividade física mais regular ou apresentou uma forma que não foi a forma leve de COVID, procure seu cardiologista antes de voltar às atividades plenamente.

 

Palavra de Cardiologista, Sônia Francisca de Souza, Ten Cel PM QOS Médica

Cardiologista e Arritmologista pela SOBRAC/SBC

Chefe da Seção Técnica de Saúde da Diretoria de Saúde da PMMG (DS6)

 

 

Triênio 2019-2021

Coronel PM Ailton Cirilo

Coronel PM Rosângela Freitas

 

AOPMBM presente, cuidando de sua gente.

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