Conversa com especialista: Empreendedorismo no setor público

Entrevistada: Mariângela Miranda Marcon

Tema: Empreendedorismo no setor público.

O dia 08 de março foi instituído pelas Nações Unidas como o Dia Internacional da Mulher, e em vários países essa data é lembrada como um marco de lutas por maior equidade de direitos na sociedade. A Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar – AOPMBM, não poderia deixar de render homenagens às mulheres associadas e, neste ano de 2023, de forma inédita, deu destaque ao empreendedorismo feminino no setor público. 

Buscando destacar e valorizar iniciativas, ações ou projetos desenvolvidos ou idealizados por servidoras públicas lotadas no Estado de Minas Gerais, na área da segurança pública e defesa social, a AOPMBM, por meio do Departamento da Mulher Militar, lançou o Prêmio de Empreendedorismo Feminino nas Forças de Segurança Pública, durante o evento que comemorou o mês da mulher.

Na oportunidade, os participantes puderam ouvir uma palestra sobre o tema “Empreendedorismo no serviço público”, proferida pela Sra Mariângela Miranda Marcon. A síntese das ideias discutidas por ela é apresentada nesta entrevista.

  1. Começamos por entender o que é empreendedorismo.

Mariângela: Para entender o empreendedorismo, vamos partir do significado da palavra “empreendedor”, que tem sua origem no latim “imprehendere” que consiste em prender algo nas mãos. Empreender é comprometer-se e fazer acontecer, e essas são atitudes espontâneas e inerentes do ser humano desde o seu surgimento neste planeta.

  • A partir de sua experiência profissional, você entende que o empreendedorismo é compatível com o exercício da função pública? 

Mariângela: Sim! A partir do empreendedorismo público torna-se possível: mostrar uma nova realidade em termos de cidadania; mudar as práticas políticas governamentais pouco eficientes e eficazes no atendimento das demandas da sociedade; buscar melhoria na qualidade de vida; fazer mais com menos.

Mas, para que isso aconteça é preciso que as pessoas incorporem o espírito empreendedor no serviço público, buscando inovações, usando de criatividade e ousadia e combinando as inovações com os recursos público e privado na busca de objetivos sociais.

  • Quais são as características principais de um empreendedor?

Mariângela O empreendedor precisa estar alerta às oportunidades, ter habilidade para tomar decisões em momentos de incerteza e ser capaz de inovar de forma ousada e criativa.

  • No setor público, qual o perfil e papel do empreendedor?

Mariângela O perfil de um empreendedor no setor público passa pela sua capacidade de perceber uma oportunidade de inovação, seja tecnológica, procedimental ou comportamental, além de ter a percepção da necessidade de modificação da estrutura que há muito tempo foi ultrapassada e através dos costumes ou conservadorismo permanece preservada.

Desta forma, o papel deste empreendedor é o de iniciador, facilitador e acelerador de um processo de transformação por meio do compartilhamento prático do exercício de governar.

  • De que forma se aplica o empreendedorismo no setor público?

Mariângela: Inovação no setor público pode ser tratada como criação e implementação de novos processos, produtos, métodos e técnicas de prestação de serviços públicos, que impliquem melhor desempenho em termos de eficiência, eficácia e efetividade de resultados do setor público para a sociedade.

É importante que o empreendedor faça o que a lei determina, mas também tenha o direito de errar para evitar erros maiores, especialmente, em situações não previstas e que necessitam de aperfeiçoamento dos serviços prestados.

  • Você pode nos dar alguns exemplos de abordagens inovadoras e oportunidades de empreendedorismo público?

Mariângela Estaremos inovando ao redefinir a ideia de segurança pública, utilizar os (incríveis) espaços ociosos das universidades e escolas privadas para aumentar a qualificação da mão de obra, ampliar a transparência no uso de verbas públicas, incorporar os idosos em atividades produtivas, canalizar a energia e vitalidade da juventude para a realização do bem público, encontrar formas criativas de utilização dos espaços privados desocupados, reordenar o uso e ocupação do solo e descentralizar e profissionalizar o atendimento na saúde.

É preciso que o empreendedor público seja capaz de reexaminar o papel do governo no que diz respeito à sua responsabilidade de garantir o acesso aos serviços; ele precisa coordenar, supervisar ou simplesmente criar normas de gestão. Precisa também aumentar a capacidade do governo para responder às questões de qualidade de vida das pessoas.

  • Falando um pouco sobre o empreendedorismo feminino, o que você pode nos dizer a respeito da participação feminina em cargos gerenciais na atualidade?

Mariângela Estamos observando um avanço da participação da mulher no mercado de trabalho em geral e um crescimento da presença feminina nos cargos de gerência, diretoria e como dirigentes em setores públicos e privados. Isso pode ser fruto de um nível de escolaridade mais elevado, o que é evidente em cargos de liderança. De acordo com dados da FIEMG, em 2021, as mulheres respondiam por 50,5% dos cargos gerenciais que exigiam curso superior. Os dados nos mostram, ainda, que, de 2002 a 2021 a participação da mulher no mercado de trabalho formal cresceu significativamente, passando de 11,4 milhões para 21,5 milhões. Já nos cargos gerenciais, de 2010 a 2021 o número de mulheres assumindo gerência cresceu 66,7% e na função de dirigente de empresas e organizações cresceu 46,4%.

  • Este avanço também é observado na participação da mulher em cargos gerenciais no serviço público?

Mariângela Esta mesma fonte de dados nos mostra que de 2010 a 2021 a participação da mulher nos cargos gerenciais no serviço público cresceu 15,6%, contudo, houve pequena redução no número de mulheres nestes cargos, caindo de 54,8% em 2010 para 53, 8% em 2021.

  • Quais as dificuldades que você considera que temos que superar para aperfeiçoar o empreendedorismo no serviço público?

Mariângela Como o empreendedorismo e a inovação não são encontrados na maioria das organizações públicas de forma estruturada, precisamos superar a tendência à pratica de ações isoladas. Precisamos superar também a falta de apoio, pois isso não só suprime diversas iniciativas, como também impacta no público interno um sentimento ainda maior de crise. É preciso romper paradigmas, promover mudança na alteração dos formatos há muito tempo enraizados dentro da instituição e, para isso, é preciso perder o medo de inovar, pois, desde a infância somos educados para buscar o caminho da certeza, sem arriscar ou ousar em nossas ações. Isso se repete quando vamos para o campo profissional.

  1. Se você puder resumir em poucas palavras, o que é inovar no serviço público?

Mariângela Para inovar no setor público é preciso agir identificando e coordenando oportunidades para atender necessidades que podem ser individuais, coletivas e/ou de interesse público. Assim, é preciso: ter iniciativa; gerar ideias; correr riscos calculados e agir com liderança e comprometimento.

QUEM É NOSSA PALESTRANTE:

Mariângela Miranda Marcon, tem 65 anos, é casada com um empresário do ramo do vestuário, mãe de três filhos e avó de dois netos.

É graduada em Direito e pós-graduada em Direito Tributário, em Metodologia de Ensino Superior, em Direito Penal e Processo Penal.

Atuou como: Auditora fiscal de Tributos Estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Estado de Minas Gerais de 1982 a 2013; Auditora do Conselho de Contribuintes do Estado de Minas Gerais, 1989 a 1992; Consultora jurídica especialista em Direito Penal Tributário, tendo prestado serviços na Advocacia Regional do Estado – ARE Juiz de Fora, de 1990 a 1994.

Após se aposentar no serviço público decidiu empreender na iniciativa privada e atualmente é Presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Juiz de Fora, Presidente do Arranjo Produtivo Local da Zona da Mata – APL Farol da Mata Vestuário e Afins, Conselheira Fiscal da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e Presidente da Câmara da Indústria do Vestuário e Acessórios de Minas Gerais (FIEMG).

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