QUEM SÃO ELAS – Entrevista com a 2ª Ten Gislene comandante do 2º Pel/153ª Cia/44ºBPM

Hoje nossa entrevistada no QUEM SÃO ELAS é a 2º Ten PM Gislene Ribeiro da Silva de Assis, comandante do 2º Pel/153ª Cia/44ºBPM. Ela é a primeira mulher a comandar uma fração destacada na 15ª RPM, sendo responsável pela manutenção do policiamento de 3 cidades, juntamente com os 25 policiais que estão sob seu comando.

Vamos começar por conhecer um pouco como foi a preparação da Ten Gislene, desde seu ingresso na corporação, até chegar à posição atual.

  • Ten Gislene, nos conte um pouco de sua jornada como policial militar.

Ten Gislene: Meu ingresso na Instituição se deu em novembro de 1996, no Batalhão de Polícia de Choque, onde se deu minha formação para a graduação de soldado. Com o advento da greve de 97 nossa turma foi toda transferida do BPChoque e tive a oportunidade de escolher servir no 1º BPM. Neste batalhão trabalhei em diversas atividades, dentre elas se destacam: o policiamento no centro da cidade; a escolta interna de presos do Fórum, para seus julgamentos; no Grupo Especializado no Atendimento da Criança e Adolescente em situação de Rua e depois fui para o Tático Móvel.

Em 1999 me formei Cabo e em 2012 me tornei sargento, sendo convidada a permanecer na Academia de Polícia Militar. Por ser pós graduada na área de Educação Tecnológica pelo CEFET-MG, fui lotada no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação – CPP.

 Em 2017 fui mais uma vez movimenta, desta vez para o 34º BPM, onde permaneci até 2022. Inicialmente trabalhei na BSC – Base de Segurança Comunitária, posteriormente sendo deslocada para a P5 da unidade a fim de apoiar nas ações comemorativas dos 20 anos do batalhão.

Em junho de 2022 retornei para a Academia de Polícia Militar a fim de realizar o Curso de Habilitação de Oficiais – CHO- 2023. Após a formatura fui designada para a 15ª RPM (Teófilo Otoni) onde me encontro atualmente, comandando o Destacamento de Joaíma, o 2º Pelotão da 153ª Cia (Jequitinhonha).

  • Você foi a primeira mulher a assumir o comando de uma fração destacada na 15ª RPM. Quais os principais desafios encontrados e como vem lidando com eles?

Ten Gislene: Enfrentar os olhares curiosos e surpresos das autoridades masculinas e de membros da sociedade que hora ou outra questionavam: “Nossa, uma tenente mulher”.

Com muita cordialidade consegui conquistar, através do serviço, a credibilidade por ser mulher. Claro que existem alguns homens que ainda não aceitaram ter uma mulher comandando o policiamento na cidade!

  • Você comanda 25 policiais na sua Unidade. Na sua percepção, ser mulher na função de comando desta fração é um facilitador, um desafio a mais, ou não faz diferença?

Ten Gislene: Um desafio, pois, enfrentar questionamentos e olhares surpresos como se esperassem um erro para dizer “tinha que ser mulher” não é fácil. Por ser mulher temos que mostrar competência o tempo todo e que se tem muito conhecimento sobre diversas áreas.

  • Já sofreu algum preconceito por parte de subordinados, pares, superiores ou civis, por ser uma mulher no comando de uma fração? Como lidou com a situação?

Ten Gislene: Sim, por parte de autoridades civis que se recusaram a me cumprimentar e não participaram de nenhuma reunião. Bom, como não temos como agradar a todos, continuei tratando bem e sempre com educação a todas as pessoas, mesmo sabendo que algumas não queriam ser cumprimentadas.

  • Ser designada para o comando desta fração exigiu fortes alterações em sua vida pessoal?

Ten Gislene: Sim, muitas, pois foi a primeira vez que fiquei longe do lugar onde nasci e cresci.

  •  Como vem administrando as mudanças?

Ten Gislene: Estou muito longe de casa – quase 800 km de Belo Horizonte. Não é tarefa fácil administrar essa situação, tendo em vista que continuo como chefe de família, tendo que administrar todas as situações à distância. Muitas vezes bate uma tristeza por estar longe e não poder acompanhar os problemas de perto. Mas as demandas atuais do Destacamento acabam por preencher boa parte do meu tempo, não sobrando muito tempo para pensar nos problemas que ficaram em Belo Horizonte.

  • Quais os maiores aprendizados que você vem tendo na função de comandante de uma fração destacada?

Ten Gislene: Administrar o tempo de forma a não deixar faltar oportunidade para o lazer mental. Administrar os problemas na nova casa e da outra que permanece em BH. Muita sabedoria para lidar com os problemas pessoais dos militares sob meu comando, que muitas vezes só precisam ser ouvidos. As demandas da sociedade são infinitas, em sua maioria a PM é considerada a salvação de seus conflitos e problemas, então se torna primordial ter uma mente saudável para a escolha das palavras que, de certa forma, não vão resolver seus problemas, mas irão ensiná-los como procurar as soluções. Muitos agradeceram só o fato de transmitirmos conhecimentos que até então eram desconhecidos. O pouco que sei, para uma comunidade carente de conhecimento, é motivo de alegria e agradecimentos. Fico feliz em saber que faço a diferença na vida de algumas pessoas, levando um ouvido amigo, uma palavra de sabedoria ou de conforto. Nunca pensei que minha “segunda pele” pudesse me proporcionar tamanha satisfação de servir ao povo mineiro.

  • Ten Gisele, gostaria de lhe agradecer por nos contar um pouco sobre os desafios de sua função e pedir que nos deixe uma mensagem final .

Ten Gislene: Cuidar da Segurança Pública de três cidades não é tarefa fácil, requer muita habilidade, competência, experiência profissional, controle emocional e sabedoria para lidar com as diversas demandas apresentadas pela sociedade; vai muito além dos conhecimentos aprendidos no banco de escola.

Apesar de uma minoria da população ainda não aceitar uma mulher no comando de um Destacamento, muitos ficaram felizes “pelo Tenente ser Mulher”.

Relacionados