Assédio sexual – mulheres militares do Estado do Paraná lutam por justiça e respeito

Nessa quinta-feira (07/07), em frente ao Tribunal de Justiça na cidade de Curitiba, militares estaduais e mulheres dos segmentos públicos e privados estiveram mobilizadas em torno de um novo julgamento no caso “Doutor Bacana”. O objetivo foi acompanhar a sessão de apelação criminal em que o réu, um médico da Polícia Militar do Paraná (PMPR), está sendo acusado de assédio sexual e atentado violento ao pudor, crimes pelos quais já foi julgado anteriormente, em 2021. Já no fim da tarde, saiu a decisão da Justiça Criminal do estado do Paraná, anulando o julgamento que inocentou o acusado e recomendando a retomada do caso.

Vamos relembrar o caso. O Dr. Fernando Dias Lima, médico da PMPR, foi acusado por cerca de 40 mulheres de se aproveitar de sua condição de profissional de saúde para cometer abuso contra militares e esposas de militares, dentro de consultórios nos quarteis da corporação.

A situação aconteceu entre 2011 e 2018, e só veio a tona após uma oficial que foi vítima do médico realizar uma denúncia. Bastou uma voz se levantar, outras tantas vieram depois. Antes amedrontadas, em razão da posição hierárquica desfavorável, outras também quebraram o silêncio. O caso repercutiu e foi pauta de uma reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo de Televisão, que fez uma ampla cobertura do caso, em 2018, entrevistando mulheres e até mesmo conversando por telefone com o acusado dos crimes.
Apesar de reconhecer o sofrimento das mulheres que se manifestaram, o Conselho Especial de Justiça Militar do Paraná absolveu o médico sob a alegação de que os crimes não foram provados. Agora, os crimes sexuais de que ele foi acusado serão revistos na esfera criminal.

Vergonha, medo, intimidação.

A matéria divulgada no “Fantástico” mostra o sofrimento das mulheres que tiveram a coragem de denunciar o oficial. Visto como uma pessoa gentil e amável, o que lhe rendeu o apelido de “Doutor Bacana”, as funções deste médico favoreciam o seu contato regular às militares, já que a ele competiam o atendimento clínico nas unidades situadas em Cascavel, Foz do Iguaçu e na Academia Policial do Guatupé, bem como a homologação das consultas realizadas fora da corporação. Nestes casos, ainda que as mulheres recusassem o tratamento com Dr. Fernando Dias Lima, se viam obrigadas a passar pela sua avaliação para validar o posicionamento técnico de outros profissionais.

Perguntadas sobre a razão de terem se calado por tanto tempo, as vítimas alegaram que se sentiam envergonhadas pela situação, intimidadas pela condição de superior do médico, além de terem medo de não serem apoiadas pela corporação. Ver o “Doutor Bacana” ser inocentado, apesar de todas as denúncias catalogadas, gerou indignação nas mulheres, reforçou o sentimento de desamparo em relação a quem deveria lhes defender, mas não o fez. Apoiadas por representantes de seis entidades ligadas à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militar, não só as vítimas, mas todas as mulheres destas instituições no estado do Paraná, e nos demais estados da federação, esperam que o resultado de um novo julgamento resgate o respeito a elas devido.

A Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (AOPMBM), por meio do seu Departamento da Mulher Militar (DMM), se solidariza com todas as vítimas de abuso e espera por um desfecho que resgate a autoestima destas mulheres e a confiança delas nas instituições.

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