ARTIGO CEL AMAURI | DE GODOT E JANOT
De uma maneira geral, é um retrato, ainda que em preto e branco, de nossa vida: esperar por uma esperança! Esperança que as coisas se mantenham como estão ou se modifiquem, lenta ou radicalmente, conforme aspiração conjuntural.
Veja-se o momento em que vivemos: uma crise de autoridade e de moralidade, como “nunca antes visto na história deste país”. E aqui estamos nós, esperando por correções na economia, na área psicossocial, na política. Ah! A política, que se tem mostrado extremamente competente na prática do fogo amigo. Contra nós! O que vem aumentando a insegurança em nosso já deteriorado ambiente. Objetivamente, ao invés de nos trazer soluções, transformou-se em problema: à frente ou na esteira de sucessivos escândalos, sempre há representante(s) da classe política. Subjetivamente, fica na população a sensação de abandono, de opressão, de traição.
Com a Constituição de 88, o Ministério Público (MP) tornou-se instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. E a roubalheira não é maior em nosso país, em parte, graças ao trabalho de procuradores e promotores, Godot não veio, porém, veio Janot. E, ao que parece e se estima, veio forte, corajoso, independente, identificando a podridão e quem a produziu. Interessante que alguns políticos estão indignados por terem sido indiciados. Ora, se nada temem, usem o direito da ampla defesa e não tirem o “gás” do MP. Certamente, o procurador-geral e o ministro Teori não aceitarão a opção do aforismo de Stanislaw Ponte Preta: “restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”
Ainda que mereça aplausos a postura firme do MP brasileiro, permanece em nós a convicção de que ainda estamos esperando um Godot. Diferentemente da ficção teatral, visto que o vazio está sendo vivenciado por nós, brasileiros, sabemos por quem estamos esperando e o que dele se espera: um verdadeiro líder positivo, com autoridade democrática e republicana, que restaure valores éticos e morais em nossa sociedade. Chega de falsos profetas, condutores negativos, gurus incompetentes! Embora haja um vácuo de liderança efetiva em nosso país, não perdemos a fé. Ao contrário de Godot, esse líder tem de chegar. Há uma grande esperança nessa espera!