Artigo Cel Klinger: Resiliência → Chave-Mestra da Vida
“Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre, sem fazer distinção entre estes dois impostores.”
Em epígrafe, dois versos da 3ª estrofe do poema “SE”, de Rudyard Kipling. O poema, utilizado, pedagogicamente, em escolas militares britânicas, discorre em oito estrofes sobre a capacidade do Ser Humano enfrentar e ultrapassar situações adversas. O vitorioso terá a Terra e tudo o que nela existe; será um Homem com “H” maiúsculo.
Viagem cósmica da Alma! Respeitáveis vertentes espiritualistas veem a travessia humana como oportunidade de provas e resgates. Pode dar impulso ao voo ascensional de retorno à “Casa Paterna”, ou, pelo contrário, reter a viajora.
A travessia, do nascimento à morte do corpo, não é fácil. Comparamo-la, metaforicamente, à caminhada por variados sítios. Ora, o viajor percorre prados verdejantes banhados por águas cristalinas; ora, terrenos agrestes, desertos intermináveis, escarpas perigosas. Ora, colhe frutos saborosos; ora, venenosos. Ora, altaneiro, avança por estradas límpidas; ora, no meio de espinhos, rasteja. Ora, bem alto, obtém lauréis e glórias; ora, cai, e beija a poeira dos campos inférteis.
Na realidade, o viajor terrestre, qualquer que seja seu status social ou econômico, ou de poder, convive com triunfos e tropeços, ganhos e perdas. Há momentos em que tudo corre a favor: sucesso em estudos, empregos garantidos, família unida e feliz, êxito nos negócios, grandeza política, saúde perfeita, sorrisos abundantes… Porém, na marcha da vida, aquele que pensa na perenidade das benesses, frustra-se redondamente. Os desastres, as quedas, as revoluções e guerras, o terrorismo sem fronteiras, os embates virulentos acontecem por efeito da própria natureza ou pelas nuances das coisas humanas: acidentes de toda ordem, tsunamis, mortes acidentais ou inesperadas, falências, crises econômicas, desemprego prolongado, perseguições políticas, violência da bandidagem etc.
Na capacidade de enfrentar estes dois impostores – Triunfo e Desastre, fenômenos alternados – é que entra a chave-mestra da vida: Resiliência. É ação – firme, resoluta, equilibrada e paciente – direcionada ao vencer. Jamais passividade!
O resiliente, nos ápices que lhe bafejam, jamais perde a humildade e o bom-senso; não se inebria na vitória; mantém-se sempre no campo da fraternidade; sabe que o mundo dá suas voltas; tudo é instável e passageiro. Quando a adversidade lhe bate às portas, não recorre à fuga ou a atos tresloucados: abandono, álcool ou outras drogas, violência, desespero, depressão, suicídio… Ao reverso, agiganta-se em força interior; suporta pressões e luta, transforma-se, adapta-se, reage para superar a desdita e vencer.
Em todas as camadas sociais, encontramos Pessoas Resilientes, mas, também, os inebriados com a grandeza, que se abatem aos primeiros desafios. Têm aquelas que, criadas em ambientes totalmente desfavoráveis, cresceram na vida e atuam como fator de regeneração do meio. Não se abalam nas adversidades, por mais cruéis e pesadas. Muitos tiveram perdas terríveis, superaram e buscaram novas trilhas de ascensão.
O interessante seria, na caminhada de uma nova humanidade de elevação consciencial, que os pais e professores se preocupassem, ao longo do processo educacional que começa no lar, em introjetar na mente das crianças valores conduzentes à Resiliência. Porém, isto ainda não acontece. Há crianças que entram na vida como “príncipes ou princesas”. Não conhecem o “Não”; tudo lhes é concedido; não sofrem frustrações. Crescidos e adultos, vão enfrentar os embates da vida com todas as suas nuances de tropeços e perdas. Caem, e não sabem se levantar.
Em suma, e reprisando: RESILIÊNCIA→Chave-Mestra da Travessia Humana.
Quem não conhece o poema “SE”, busque-o, leia-o, internalize-o e sinta-o como um mantra direcional.
Klinger Sobreira de Almeida é Coronel Veterano da PMMG e Membro Academia de Letras João Guimarães Rosa