Artigo Cel Klinger – Prevalência dos valores éticos
“Ética (…) conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade…” – Houaiss
A sociedade organizada – nação, comunidade, tribo, profissão, associação… – rege-se por valores éticos. Estes defluem das tradições, da cultura, dos costumes, dos fins do grupo considerado. Normalmente, inserem-se nos estatutos, regras específicas, códigos ou leis que emergem na origem e desenvolvimento dos entes sociais.
A quase totalidade da humanidade, coerente com seu estágio de avanço civilizacional, tem como fonte principal na edificação de seus valores éticos as revelações dos iluminados – Khrisna, Moisés, Buda, Lao Tse, Cristo, Maomé… – que, em épocas diferentes, fizeram a travessia terrena, deixando-nos mensagens profundas e incontrastáveis. Estas, na essência, configuram guias que orientam, a partir do individual ao coletivo, a conduta humana, sempre se lastreando nos princípios do bem: altruísmo, sinceridade, honestidade, convívio harmônico, respeito à vida humana, justiça social…
O ideal seria que todos cultivassem, na conduta diária e nos procedimentos os valores regentes. Contudo, dentro da realidade de uma humanidade que evolui, mas ainda mantém consideráveis segmentos em baixo nível consciencial (ordem moral), existem aqueles que pisoteiam e violentam as normas éticas.
Na seara das profissões, a observância dos valores éticos é fundamental. Os profissionais devem estar imbuídos dessa consciência. Desvios, praticados por um ou mais membros, levam ao descrédito, e fazem ruir o império da confiança.
No tocante ao exercício da judicatura – o poder de julgar e definir as demandas de toda a natureza e tipo – o povo espera e acredita que se acha sob a égide de juízes incorruptíveis que atuam, rigidamente, dentro dos padrões éticos. Quando algum fato inadequado vem à tona, e isto é raro, a comunidade sente-se perplexa e traída.
Há pouco mais de um mês, uma prática negativa, inadequada a um Juiz, veio à tona, e foi comentada nas redes sociais e imprensa. Assumiu níveis de escândalo.
O jovem filho do Juiz da 1ª Vara da Comarca de Floriano/Piauí, na noite de 29 de março2021, por volta das 22h00, dirigindo o veículo de propriedade de seu genitor, em estado de embriaguez, atropelou e feriu uma mulher. Foi preso em flagrante pela Polícia Militar. Submetido a exame, o teor alcoólico de 1,6mg/1 – cinco vezes o limite mínimo – acarretou sua autuação por embriaguez ao volante e lesões corporais.
O magistrado, pai do delinquente, tomando conhecimento do ocorrido, concedeu, de imediato, liberdade provisória ao filho, sem arbitramento de fiança.
O procedimento causou perplexidade na comarca, e repercussão nacional, pois a suspeição do Juiz nesses casos é de uma clareza meridiana à luz dos estatutos do judiciário, e se não o fosse, o mínimo de bom senso, mesmo que interferisse em favor do filho criminoso, deveria aguardar a decisão de um dos colegas da outra Vara.
Errando vergonhosamente, impressiona o cinismo do Juiz ao ser ouvido por órgãos da imprensa, inclusive o Fantástico/Globo: “Entre a toga e defender um filho meu, eu ainda prefiro defender um filho (…) No dia em que essa toga não me pertencer mais, não vou morrer também…” Que espécie de filho esse pai educa para a sociedade!
Exemplos negativos como este, e outros que vêm acontecendo nos diversos ramos de atividade pública ou privada, levam-nos a repensar os destinos do país. Impõe-se arregimentar a consciência nacional para reverter o processo de degradação ética que, infelizmente, tomou impulso nos últimos tempos. “Prevalência dos Valores Éticos” é o fanal. O segredo está na educação da criança com foco na formação moral.
Klinger Sobreira de Almeida – Militar Veterano, Membro Fundador da Academia de Letras João Guimarães Rosa/PMMG
Triênio 2019-2021
Coronel PM Ailton Cirilo
Coronel PM Rosângela Freitas
AOPMBM presente, cuidando de sua gente.