AOPMBM recebe militares veteranas da turma de 1986.

Dando início a preparação para os 40 anos das Sargentos Feminino, do Curso de Formação de Sargentos (CFS/PMMG), turma 1986, 28 militares veteranas escolheram e se reuniram na AOPMBM, nesta segunda-feira (17/02), para assistiram a um filme, seguido de um bate-papo sobre recordações da turma. O grupo foi recebido pelo o presidente da AOPMBM, Cel Ailton Cirilo, acompanhado da 1º vice-presidente, Cel Rosângela Freitas, e diretores de departamentos.

A 2º Ten Jussara Lopes do Carmo Ramos leu um texto de sua autoria em comemoração aos 39 anos de formatura das sargentos de 1986. Em seguida, Cel Cirilo deu as boas-vindas e enfatizou a importância das mulheres para a inclusão e evolução nas corporações militares, sendo exemplo para as novas gerações. Cel Luciene Magalhães de Albuquerque fez uma retrospectiva com imagens da turma, que a homenageou pela participação marcante na formação das militares.

Após assistirem ao filme Batalhão 6888, as veteranas tiveram as palavras da 1º vice-presidente, Cel Rosângela Freitas, que enfatizou a importância do contato, fortalecimento dos laços e da representatividade, que ainda é importante para mulheres pioneiras da PMMG.

Abaixo o texto da 2º Ten Jussara Lopes do Carmo Ramos em homenagem aos 39 anos de formatura das sargentos de 1986:

TURMA CFS FEM 86 – 39 ANOS

“Jovem aluno,

Ao transpores os umbrais dessa escola não te esqueças que a grandeza desta corporação também foi feita com o sangue dos que tombaram envergando sua farda e sob a sombra de sua bandeira.” IDIMAR VILAS BOAS – CEL PM – 25/08/71

Essa frase em uma placa na entrada da APM, marcou há 39 anos atrás, o início do Curso de Formação de Sargentos, da terceira turma de policiais femininas da PMMG. Me lembro que fui obrigada a decora-la para satisfazer a exigência de alguns Cadetes que, vira e mexe, perguntavam para uma de nós o que estava escrito nela. Uma frase forte e verdadeira, que já colocava em nossas mentes a reflexão sobre a responsabilidade que estávamos assumindo.

Ali, sucessoras de duas outras turmas de PFems, 81 e 83, estávamos consolidando um projeto inovador, que colocou a PMMG no foco da mídia, ao ser pioneira no Brasil, da inclusão das mulheres na carreira militar.

Um projeto que enfrentou pressões internas e externas, preconceitos e tensões, mas se mostrou certeiro e estratégico para o crescimento e desenvolvimento mais humanizado da corporação.

Primeiro dia, 17 de fevereiro de 1986, já trajando o uniforme de alunas, calça jeans, camiseta branca, tênis preto, formadas em 2 turmas na “rabeira da tropa” depois de 6 turmas masculinas, estávamos prontas para nosso primeiro desfile, com todo corpo do Comando da Academia e professores militares e civis presentes no palanque oficial. Éramos a novidade. As diferentes.

Um arrepio de medo, expectativa e ansiedade aceleravam nossos corações e ao mesmo tempo a alegria e orgulho dessa conquista impulsionava-nos a controlar as emoções e marchar, algumas pela primeira vez, no ritmo cadenciado pelo bumbo da bamba da APM. Pés erravam, mãos trombavam, mas a cabeça erguida, altiva, com o olhar assustado, mas firme, mirando o futuro ainda incerto de nossas carreiras.

Jovens demais para perceber o enorme passo dado em nossas vidas. Mas maduras o suficiente para abraçar a oportunidade e lutar por grandes questões institucionais e sociais envolvendo a presença feminina em espaços até então exclusivos dos homens.

Uma virada de 360 graus na vida de todas. Uma oportunidade, uma escolha, um destino. Era um salto para o desconhecido. Com fé, esperança e determinação.

Inocentes e inexperientes, mas cheias de energia e coragem, 83 jovens mulheres marcaram o ano de 1986. A terceira turma feminina do Curso de Formação de Sargentos abalou e revolucionou os famosos umbrais da conceituada Academia de Polícia Militar.

Essa turma fez história, que talvez muitos não saibam. Pois nada do que foi conquistado ali foi registrado como ato ou reivindicação nossa. A começar pela coragem de questionar regras e propor mudanças, ainda como alunas, em questões normatizadas por comandantes, homens, que estavam diante de algo novo e que, pela circunstância histórica, tinha que se consolidar e dar certo. Hoje, entendemos que, naquela época, era arriscado flexibilizar. Dar ouvidos e espaço para as mulheres era abrir as comportas de uma represa cheia de ideias, ousadia, inteligência e coragem.

Fomos chamadas de rebeldes e indisciplinadas. Mas vejo que não. Éramos apenas jovens que tinham coragem e argumentos para questionar, na maioria das vezes, dentro das normas de hierarquia e disciplina. As mais exaltadas, ok, às vezes quebravam essas regras. Mas, tanto estávamos certas em inúmeras questões, que nenhuma teve punição grave, nem durante o curso, nem após formadas. A permanência compulsória era uma forma de controlar o fogo e a impulsividade questionadora. Mas muitas vezes a redenção vinha na forma de tratamento mais respeitoso e até mudança de algum procedimento.

Foi na coragem desses posicionamentos firmes que vieram as pequenas vitórias, como, por exemplo, usar cabelo comprido, preso no coque. Pode parecer pouco, mas abriu caminhos para grandes conquistas de outras PFems que se sentiram fortalecidas e tiveram coragem de se manifestar durante suas carreiras contra normas abusivas e incoerentes.

Foi um ano desafiador, que formou 83 mulheres de fibra. Algumas mais exaltadas, outras mais contidas, mas todas inegavelmente valorosas.

As alunas vindas de várias cidades do interior, junto com as 03 estrangeiras do Pará, foram obrigadas a se alojar durante o curso. A saudade de casa, dos parentes e amigos, a saudade da privacidade de um quarto, unia todas nas afinidades e histórias de vida semelhantes, a maioria de origem simples. Lógico que nem tudo eram flores, como em uma família, as rusgas também aconteciam.

As da capital, com o privilégio de voltar para casa, muitas vezes levavam consigo no final de semana, uma amiga alojada para visita ou para passear em algum ponto turístico de BH.

Muitas se sentiram no voo de liberdade e descobriram sozinhas ou em grupos, as belezas de BH, os barzinhos, os shoppings e abriram suas asas, mentes e corações, em voo livre, longe das amarras patriarcais.

Com o tempo, tudo foi se encaixando, grupos se formando por afinidades, com planos futuros de montarem repúblicas, fazer cursos e outras atividades pós formatura.

Ao final do curso, muitas voltaram para sua região no interior, as paraenses voltaram às suas origens e tivemos as primeiras aprovadas da turma no CFO 87. Na capital, fomos para a Cia PFem, onde já trabalhavam as policiais da primeira e segunda turma.

Entre risos e choros a vida seguiu, a turma PFem 87 e o curso de Soldados PFem engrossou o corpo feminino e os batalhões da capital começaram a se adaptar e receber mulheres nas suas unidades, levando a extinção da Cia PFem, em 1991.

Hoje, após 43 anos, somos 3.794 Policiais Femininas em todos os locais da PM. 551 oficiais e 3.243 praças.

Nos orgulhamos de todo o processo que passamos e dos caminhos que ajudamos a abrir para a mulher na PMMG. Nos orgulhamos de todas que galgaram a carreira do oficialato e das muitas que chegaram ao mais alto posto da PM. Na representatividade delas, sentimos o gosto da vitória pelo mérito da conquista. Nos orgulhamos também da grande maioria que seguiu carreira como praças, dando suporte com competência e dedicação, em várias áreas da PMMG e nos diversos órgãos públicos estaduais e municipais. Tivemos até representantes em missões da ONU no exterior.

Com todo respeito a todas as turmas de policiais femininas, nossa turma inegavelmente brilhou.

Tivemos algumas baixas. Em momentos de crise política e novas oportunidades, algumas optaram em sair da PM. Mas, tenho certeza que se lembrarão dessa fase que as fizeram mulheres mais fortes.

E assim, cada uma seguiu o seu destino: casamentos, filhos, separações, faculdades, cursos, muitas foram para o interior e nunca mais voltaram… Perdemos contado com várias, já que a facilidade das redes sociais é coisa relativamente moderna.

Na comemoração dos nossos 30 anos de inclusão, chegamos a ter uma grande adesão das integrantes da nossa turma. Então, é nosso desejo reunir todas para celebrar nossos 40 anos, em 2026. O encontro de hoje é o pontapé inicial para esse projeto.

Em Romanos 12, versículos 4 e 5, Paulo escreve que somos um só corpo em Cristo, mas somos membros diferentes, com funções diferentes. Mas que sempre seremos UM, com Cristo, nossa cabeça, a guiar nossos passos.

Paulo fala do Reino de Deus e como devemos estar ligados uns aos outros, ajudando mutuamente, fazendo cada um o melhor que pode fazer na sua função, para vivermos em harmonia e plenitude a vontade de Deus para nossa vida.

Trazendo essa reflexão para esse dia de comemoração, vejo aqui nossa turma 86, nossas comandantes, a turma amiga de 87 e como cada uma, dentro daquilo que lhe coube, das escolhas que fez na carreira e na vida, cumpriu a sua missão. Fez o melhor que pode e encerrou sua carreira brilhantemente.

Isso nos dá a certeza que, a escolha que fizemos há 39 anos atrás, não foi aleatória, impulsiva e, considerada por muitos da época, uma loucura.

Para quem crê, foi a mão invisível de Deus que te conduziu. ELE que tudo sabe, que te ama e sabe o seu potencial para fazer a obra DELE no mundo, te transforma, te capacita e te usa.

Hoje, no auge da nossa maturidade, pedimos a Deus para nos dar sabedoria e discernimento para escolher nossas batalhas. Entender que muitas vezes ter paz é melhor do que ter razão.

Desejo que onde quer que vocês estejam, usem seus talentos, seus dons e toda a bagagem de vida, no propósito de fazer o bem e promover a paz.

Grande abraço a todas e obrigada pela oportunidade de celebrar essa data e recordar alguns momentos de nossa jornada juntas.

AOPMBM PRESENTE, CUIDANDO DE SUA GENTE.

Triênio 2025-2027
Cel PM Ailton Cirilo
Cel PM Rosângela Freitas
Maj BM Nivaldo Soares

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